Ler sempre é muito bom, mas algumas obras lhe provocam
significativas reflexões. Em Cibercultura (Lévy, 1999) três aspectos me chamam
a atenção e compartilho-os com vocês. São minhas abstrações – espero que
lhes sejam úteis e apreciem.
Inicialmente, é pertinente destacar que a obra referenciada objetiva
pensar a cibercultura. Neste
contexto, o autor opta por uma abordagem otimista, na qual reconhece que a
Internet não resolverá todos os problemas sociais e culturais da humanidade,
mas considera fundamental a compreensão de que o crescimento do ciberespaço
decorre de um movimento internacional de jovens desejosos em romper com as
mídias tradicionais indo ao encontro, coletivamente, de formas diferentes de se
comunicarem, bem como o entendimento de que a sociedade estar vivenciando um
novo espaço de comunicação, cabendo-nos identificar as suas potencialidades para
a melhoria das dimensões sociais, políticas econômicas e humanas.
Na leitura do texto, minhas reflexões iniciais destacam:
a) a dificuldade por parte da sociedade ou de segmentos da
sociedade em acolher novos paradigmas, conforme se observa em relação à cibercultura.
Historicamente, fatos idênticos ocorreram quando do surgimento do Rock, nos
anos 50 e 60; da música pop dos anos 70 e; da sétima arte – o cinema. Esses
fenômenos, foram alvos de fortes preconceitos (posteriormente, superados) e se
expandiram para além muros; juntos ou isoladamente, não se constituíram panaceia
do mundo, mas ofereceram grandes contribuições sociais, reconhecidas, bastante
reconhecidas na atualidade. A industrialização pela qual estas expressões
sociais e artísticas passaram não lhes tirou méritos, benefícios e
possibilidades. Certamente, assim está acontecendo com o ciberespaço e a
cibercultura.
b) o segundo ponto de contemplação refere-se a nossa responsabilidade
quanto às escolhas. O autor ressalta que nem tudo que está nas redes, no
ciberespaço é bom, assim como nem todo filme ou toda música é boa. A
responsabilidade pelas escolhas pode nos permitir assumir uma postura aberta
quanto às novidades, compreende-las, reconhecer as mudanças qualitativas que
podem advir e o ambiente inédito resultante da extensão das novas redes de
comunicação para a vida social e cultural, bem como o uso das novas tecnologias
numa perspectiva humanista.
Ainda neste contexto, cumpre-nos o papel de dar sentido ao
que se encontra na rede, um verdadeiro “dilúvio” de informações que não pode
ser contido, disponibilizado por meio de redes sociais como facebook e linkedin
(ferramentas de interação social), Google e YouTube (ferramenta de pesquisa)
etc. Portanto, é necessário que desenvolvamos a competência de filtrar,
selecionar, dar significado ao que tem na rede, hierarquizando em convergência
com as demandas pessoais, grupais ou corporativas.
c) a terceira reflexão que tomo, refere-se ao inexorável
aspecto comercial em larga proporção que tomou o ciberespaço. O autor declara
que a exploração econômica da Internet ou o fato de nem todos terem acesso a
ela, não justifica posicionamento de condenação a cibercultura. Constata que há
cada vez mais serviços pagos, assim como cresce significativamente os serviços
gratuitos de todas as partes, sob diferentes formatos e em diversas áreas. Observa-se
que o comércio, assim como a dinâmica libertária e comunitária que caracterizam
o crescimento da internet, são complementares e impulsionam o seu
desenvolvimento. Compreende a seriedade do aspecto da exclusão social presente
neste ciberespaço, todavia diz que não deve ser motivo para o não
reconhecimento das implicações culturais da cibercultura em suas diversas
dimensões. Alerta que não são os pobres que se opõem a Internet e sim aqueles
que têm os seus privilégios ameaçados pelos novos tipos de comunicação.
Sabe-se que nas últimas décadas, a cibercultura caracteriza as relações
acadêmicas, profissionais e pessoais. Diversas ferramentas favorecem a
comunicação entre as pessoas, grupos e organizações, formais ou informais. No texto em estudo, o autor cita tecnologias que emergem e que caracterizam as formas crescentes de comunicação digital, entre as quais estão destacadas a seguir:
1- O
Correio Eletrônico (e-mail) amplamente usado para a troca de mensagens
digitais on-line entre pessoas ou corporações; nas corporações, as mensagens podem inclusive ser previamente programadas e transmitidas por softwares
específicos, o que é muito usado no setor comercial. O Correio Eletrônico mudou
radicalmente a forma de comunicação nas organizações, imprimindo mais rapidez e
transparência; reduzindo a circulação de papéis e; ampliando a
capacidade de comunicação, envio e recepção de arquivos por meio de Internet. De
forma simplificada, por não mais demandar grandes equipamentos, o Correio
Eletrônico hoje está bastante presente e acessível por meio dos aparelhos
eletrônicos móveis. Ao longo do texto o autor detalha esta modalidade de
comunicação digital, o que se justifica considerando que o lançamento da obra
ocorreu na década de noventa.
2- Na sequência o autor destaca as Conferências Eletrônicas,
ferramenta que possibilita a determinados grupos de pessoas debaterem
assuntos de interesse, para isto requerendo disponibilização de Internet. Nesta
modalidade de comunicação, os participantes podem se colocar como ouvintes ou
estabelecerem comunicação entre si. Igualmente, as Conferências Eletrônicas podem ser usadas por organizações para
tratar sobre temas diversos, reunindo on-line gestores ou funcionários que se encontrem
em lugares diferentes, por meio de link, disponibilizado com antecedência.
3- A Intranet também é citada pelo autor como uma ferramenta usada no
setor produtivo, visando a organização interna das empresas; usa dispositivos para
correspondência, colaboração, compartilhamento de memória e de documentos compatíveis
com a rede externa. A Intranet incrementa a comunicação interna, integra departamentos e promove
transparência.
No percurso desta obra, o autor aborda as implicações culturais
do desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação,
estando cheia de ótimas oportunidades para pensarmos sobre pessoas e
distâncias presentes nesta sociedade em rede.